Outubro também já nos escorre pelas mãos, anunciando novembro e o inevitável final de mais um ano. Outro ano, bastante atípico, que deixamos para trás em nossas vidas, com uma sensação de que poderíamos ter feito e vivido mais. Um misto de alívio e preocupação, pois afinal, o que nos aguardará ao virarmos a página em dezembro?
Seguimos observando as pessoas e suas reações a tudo o que vivemos, enquanto sociedade, nestes dois últimos anos. Muitas situações que chegam aos recursos de saúde e outras tantas não. Muitas as formas de adaptação ao novo normal, à ansiedade, aos riscos reais.
As exigências para um trabalho mais isolado, em home office, por exemplo, que demandou pronta adaptação, agora já encontra intrigante resistência para o retorno ao coletivo. O ser humano é muito curioso em suas demandas afetivas. A estabilidade e segurança, a tendência ao equilíbrio, são o que sempre buscamos, haja visto as constantes ações voltadas à motivação, buscando energizar e levar adiante pessoas, grupos e propostas.
A todo o momento somos chamados à adaptação, com ou sem a existência de pandemia. Algo do ambiente caseiro, da permanência em casa, sem as pressões do trânsito, do convívio direto com colegas de trabalho e clientela, mostrou-se sedutor. Mas eis que novamente vamos sendo desacomodados, na tentativa de voltarmos ao estado anterior das coisas.
Por motivos um pouco diferentes dos iniciais, vamos encontrar pessoas lidando com a ansiedade, dificuldades em retomar o trabalho presencial, parecendo preferir ficar trabalhando sozinhas, e algumas sofrendo com fobia social, pânico e depressão. O ser humano necessita de tempo para processar as mudanças que ocorrem na vida. Quando a adaptação é bruscamente exigida, vamos encontrar dificuldades, desajustes.
Nossa tendência ao colo, ao acolhimento, ao conforto do conhecido e previsível, conduz muitas de nossas ações e escolhas, mesmo inconscientemente. É preciso que se tenha compreensão e empatia por quem se encontra em vivências assim, pois elas, de fato, têm potencial para nos abalar.
É importante acolher, buscar/oferecer ajuda, destacar aspectos positivos do que tem acontecido, pontos fortes das pessoas, ferramentas que elas já possuem para enfrentar as novas demandas. Precisamos lembrar que mudanças são necessárias para a evolução e nos trazem aprendizado. Quando olhamos para tudo o que vivemos, podemos ser invadidos por uma sensação de querer retornar e/ou paralisar o tempo, no entanto, também encontramos a saudável possibilidade uma (re)construção.
O caminho e o tempo não voltam, isso é fato. Não temos o dom de congelar momentos, mas temos a habilidade (todos nós) de fazermos nossas escolhas, que estão ligadas ao que queremos e esperamos lá adiante, em nossas vidas. Um olhar para o futuro, com esperança e fé, mesmo que a sensação seja de que mais um ano pode ter nos escorrido pelas mãos. Resta saber o que faremos de tudo isso, como vamos escrever a próxima página no ano seguinte.
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