Solenidade ocorreu na terça-feira (06), em Monte Belo do Sul, com a presença do embaixador da Itália no Brasil

Com rito inaugural em um capitel de 1938, no interior de Monte Belo do Sul, a Rota dos Capitéis deu início a um novo capítulo na história do projeto turístico-cultural, ao oficializar a sinalização do trajeto regional da proposta, que contempla a valorização do patrimônio religioso de 10 municípios da Serra. Na terça-feira (06), na comunidade da Linha 80 da Leopoldina, o público assistiu a um grande evento no qual fé e trabalho deram a tônica, em uma reverência à cultura da imigração italiana e de seu legado, acompanhada pelo embaixador da Itália no Brasil, Alessandro Cortese, e autoridades da região. “Hoje, é a concretização de um sonho, um momento muito especial em meio aos 150 anos da imigração italiana no Rio Grande do Sul. A Rota dos Capitéis é um resgate histórico-cultural que conta a saga dos imigrantes através de capelas, igrejas e grutas, um povo que construiu do nada o que somos hoje, alicerçando nossa identidade cultural”, disse Marijane Paese, presidente do conselho superior do Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG), entidade coordenadora do projeto.

Ao lado dos parceiros e idealizadores do projeto, Rogério Capoani e Adriano Miolo, Marijane festejou a força coletiva da região e o pioneirismo da proposta. “A Rota representa a união de 10 municípios que estão inovando no turismo de experiências. Cada capitel conta uma história, então cada um tem uma história diferente. Tudo isso fazendo um elo com o enoturismo e dando ênfase ao agriturismo”, comentou, citando que o projeto prevê palestras, capacitações e workshops no interior de modo a sensibilizar as comunidades. Capoani, presidente do CIC-BG à época do início do projeto, em 2020, reforçou o empenho dos parceiros envolvidos, destacando a participação do poder público e de aliados estratégicos. “Todos foram essenciais na construção dessa proposta, e o envolvimento dos municípios dá esse caráter de sustentabilidade ao projeto. Prefeitos, patrocinadores e apoiadores foram fundamentais para a consolidação deste grande projeto, essa é uma real e verdadeira parceria público-privada”, disse. Miolo lembrou que o Brasil foi o país que mais recebeu imigrantes italianos, com o Rio Grande do Sul absorvendo grande parte deles, em especial a Serra, onde seus valores se espalharam pela região. “Aqui, tinham como filosofia de vida a fé e o trabalho, sendo pilares da construção de um futuro melhor para suas famílias. Esses valores caracterizam a cultura italiana desses imigrantes, contribuindo de forma decisiva para a construção desses 10 municípios”, disse.

O embaixador pôde ver isso de perto a partir da italianidade da região. Grupos de coros e de dança e a paisagem bordada de parreirais remetiam a uma Itália que ele conhece bem. “Abri a janela do hotel e me perguntei: ‘estou no Vêneto? Ou na Toscana?'”, disse Cortese. “É uma grandíssima alegria estar aqui, numa festa maravilhosa, sinto-me num pedaço da Itália no Brasil. Vocês estão de parabéns, porque isso é uma reunião de valorização cultural, de turismo, com um simbolismo religioso muito forte, e isso precisa chegar na Itália também”, disse. Para o cônsul-geral da Itália em Porto Alegre, Valerio Caruso, a Rota dos Capitéis também enaltece o espírito empreendedor das pessoas daqui, assim como as da Itália. “Eu vi esse projeto nascer. Nós transformamos um sonho num projeto e depois de ter realizado o projeto, nós o transformamos em objetivo. E quando alcançamos aquele objetivo nós não nos demos por satisfeitos e enxergamos mais um desafio, porque isso está no nosso DNA. É através dos desafios que nós definimos a nossa essência”, disse Caruso.

Cicerone do evento, o prefeito de Monte Belo do Sul, Jorge Benvenutti, salientou como a Rota dos Capitéis simboliza a esperança em dias sempre melhores, assim como sonhavam os antigos imigrantes. “Os capitéis são sinônimo não apenas de tradição de um povo, mas também de fé transformadora em esperança. Hoje, estamos reconhecendo o quanto é importante termos a fé como norte nas nossas vidas. Foi com a fé expressa nessa rota que aprendemos a superar os desafios 150 anos atrás”, lembrou. O prefeito de Bento Gonçalves, Diogo Siqueira, realçou como o projeto saiu do campo das ideias para ser uma realidade. “É um projeto em execução e que vai agregar muito para o turismo, para a cultura e para a tradição da imigração italiana”, disse. Por sinal, ao abordar a imigração, o presidente da Amesne, e prefeito de Garibaldi, Sérgio Chesini, aproveitou para valorizar a presença deles na região. “Esse não é só um resgate dos capitéis, é um resgate da história da imigração italiana. Eles vieram iludidos com a ‘cucagna’ (fartura), e com fé, trabalho e família fizeram da Serra a verdadeira ‘cucagna’, construíram uma Itália fora da Itália”, disse Chesini. A presidente do Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Sustentável da Serra Gaúcha (Cisga), Gisele Caumo, destacou a união dos municípios em prol do crescimento regional. “Represento aqui os 26 municípios que acreditaram nesse projeto, que viabilizaram aporte financeiro para a instalação dessas placas. São 26 municípios que disseram sim à pujança regional, simbolizando a fé e também o fomento ao turismo”, ponderou a também prefeita de Santa Tereza.

Também apoiador do projeto, o deputado estadual Guilherme Pasin manifestou a italianidade dos moradores da região, orgulhosos dos valores herdados e do apreço ao trabalho. “Esse roteiro enaltece a nossa cultura de fé, mas oportuniza aos nossos agricultores condições de desenvolvimento humano, social e econômico. E isso mantém nossa cultura, nosso orgulho de dizer que somos ítalo-gaúchos”, disse o deputado, que apoiou o proejto por meio de emenda parlamentar. “Isso é recuros público investido no povo, na nossa gente”, continuou. O secretário estadual de Tursimo, Ronaldo Santini, aproveitou o momento para valorizar a força econômica do turismo. “Esse é uma das principais matrizes econômicas no nosso plano Rio Grande, de desenvolvimetno do Estado. Recentemente, aprovamos a nova lei geral do turismo, que oportuniza ao agricultor trabalhar na sua propriedade sem abrir mão em relação a investimentos e previdência. Esse projeto associa o agrotorismo à nossa diversidade cultural, geográfica, histórica, e não tenho dúvida que será um sucesso”, disse. Para o bispo diocesano de Caxias do Sul, dom José Gislon, a Rota dos Capitéis é uma ponte a unir passado e presente, mas também para transportar ao futuro. “Uma ponte de fé, de esperança, de família, de comunidade e de trabalho. Mas também de levar isso às novas gerações, para que se possa perpetuar na história e no tempo”, destacou.

Site oficial já está no ar

A inauguração da sinalização da rota regional compreende 15 trechos que totalizam 330 quilômetros, inciando em Bento Gonçalves a partir da Igreja Matriz Santo Antônio, passando por áreas rurais e urbanas de todos os 10 municípios, finalizando em seu ponto de partida. Nessa mesma rota há outros 10 trechos dedicados a contemplar os caminhos de bicicleta, com 350 quilômetros. A Rota dos Capitéis também terá 64 rotas circulares, cuja sinalização será realizada em outra etapa. Cada uma delas começa e termina no mesmo ponto, alcançando incríveis 2.367 quilômetros na soma total. Esses trechos poderão ser feitos a pé (533km), de bicicleta (772km) ou de veículo (1.063km). Além de Bento Gonçalves, Garibaldi, Monte Belo do Sul e Santa Tereza, fazem parte da Rota dos Capitéis os municípios de Boa Vista do Sul, Carlos Barbosa, Coronel Pilar, Farroupilha, Imigrante e Pinto Bandeira. Todos eles levaram atrativos gastronômicos ao evento desta terça-feira, exibindo suas delícias regionais. Outra pauta do evento foi dedicada a homenagear as personalidades e os patrocinadores envolvidos com o projeto. Entre eles os autores do livro inspiracional da Rota dos Capitéis, Fabiano Mazzoti (“O Livro do Capitel”) e Circolo Trentino de Garibaldi (“Perto das Estrelas”). Também receberam homenagem os patrocinadores Banrisul, Rio Grande Seguros e Previdência, Sicredi e deputado estadual Guilherme Pasin, por meio de emenda parlamentar, e os apoiadores Mitra Diocesana de Caxias do Sul, Sebrae e CISGA.

Ao todo, a Rota dos Capitéis compreende 468 construções religiosas (252 capitéis, 175 capelas, 23 grutas, 16 igrejas e duas ermidas). Nesta terça, também entrou no ar o portal do projeto (http://rotadoscapiteis.com.br), que dá acesso ao guia de orientações gerais, com todas as informações para explorar os caminhos com segurança.

Legenda: Rota dos Capitéis inaugura sinalização do trecho regional

Crédito: Majola Estúdios